Thursday, July 1, 2010

Cap. 9 - O Segredo das Montanhas (Parte I)

Comentário: Até que estou conseguindo atualizar a história com mais constância, acho que conseguirei dedicar umas horas para o mestrado e umas horas para a literatura nos próximos meses, então dá para evoluir. Quem nunca leu nenhum capítulo no site, clique aqui e confira todos os capítulos.



*******************


James acordou assustado com o barulho da porta de madeira sendo escancarada por Lanir. O mensageiro estava sério, parecia nervoso e até mesmo um pouco descontrolado. Sem emitir sequer uma palavra, pegou o garoto pelo braço e o levou para fora da pequena casa. James apenas o seguia, como que por instinto, ainda muito confuso para compreender o que estava acontecendo. A chuva, do lado de fora, caía de forma extremamente violenta, o mundo repousava numa completa escuridão. E o que ainda era pior, o ar frio e as pesadas gotas de água golpeavam a sua face, deixando-o cada vez mais confuso; uma série de trovões destroçava o silêncio sagrado das montanhas.

- O que está acontecendo? – perguntou James enquanto tentava proteger o rosto.

- Venha, venha, precisamos ter pressa! – disse Lanir, ao retirar sua capa de viagem para cobrir o garoto.

Os dois seguiram caminhando pelas montanhas, em direção a um enorme paredão rochoso, certamente o caminho mais complexo para se alcançar a Grande Torre de Vigia, de onde poderiam tentar vislumbrar o garoto que precisariam encontrar na Floresta Escura.

A chuva não parava, continuava a cair torrencialmente, ampliando ainda mais a escuridão. James, inclusive, ficara um pouco desconfiado. Lanir parecia ignorar quase que completamente o poder e a violência da tempestade, que, de uma maneira estranha, não impunha aos dois sequer a mais leve dificuldade de movimentação. Na realidade, ela parecia até servir de cortina para que eles se movimentassem despercebidos; uma cortina capaz de apagar rastros.

- O que aconteceu?! – perguntou James, ainda protegendo os olhos.

- Uma criatura estava caminhando pelas montanhas, ela me viu... precisamos enganá-las. Com essa chuva, elas não nos verão escalando o paredão rochoso.

O garoto encarou Lanir com alguma surpresa.

- Mas também, quem ousaria escalar um paredão rochoso em meio a uma tempestade como essa?

O mensageiro apertou o passo, como se mal tivesse escutado a pergunta.

- É nossa única saída. Mas fique tranqüilo, nós vamos conseguir – ele respondeu, de maneira rápida e direta, sempre olhando em todas as direções para se certificar de que não estavam sendo seguidos.

- E você consegue enxergar nesse escuro? – reiniciou James. - Eu não consigo ver nada.

Lanir, desta vez, não respondeu, apenas acelerou ainda mais o seu passo e fez um sinal para que o garoto ficasse em silêncio; era importante que eles passassem despercebidos.

Em pouco tempo, chegaram até o paredão rochoso. Os clarões provocados pelas constantes trovoadas permitiram que James vislumbrasse a extensão do que precisariam escalar; eram muitos metros, e as pedras pareciam extremamente escorregadias, definitivamente seria um caminho tortuoso.

- Espera aqui. Conforme eu consiga avançar, vou te puxar por esta corda, está certo? – indagou Lanir enquanto entregava ao garoto uma das pontas da corda que acabara de amarrar em sua cintura.

- Tudo bem, tudo bem. Mas por que estamos fugindo se você já matou a criatura?

- O quê?!

- Há alguns fragmentos de escama no seu bastão e um pouco de sangue na sua roupa, achou que eu não fosse notar?

James agora gritava para Lanir, que já conseguira escalar alguns metros do paredão rochoso. Além da distância e da forte tempestade, as sucessivas trovoadas impediam uma comunicação eficiente.

- É claro que eu sabia que você ia notar, como não notaria? – Às vezes as observações até o incomodavam, Lanir pensou. – Mas esqueceu que esses seres se comunicam?! Provavelmente muitos deles virão atrás de nós. Vamos! – O mensageiro deu um grito potente, tentando superar o barulho de uma nova trovoada. – Comece a subir!

James colocou a perna direita em uma pequena deformação da parede rochosa, deu um impulso forte e começou a escalada. Os dois seguiram se movimentando, de forma bem lenta por um bom tempo; não trocavam sequer uma palavra. Todo o foco e todos os músculos de seus corpos se voltavam para uma única atividade: escalar, por mais que a água atrapalhasse, por mais difícil que fosse enxergar, para James pelo menos.

Após algum tempo, aproximaram-se de uma grande caverna, situada mais ou menos no centro do paredão rochoso. Lanir desviou dela e continuou subindo. A chuva continuava forte; os trovões castigavam os olhos e os ouvidos. Subitamente, um estrondo, um barulho ainda mais alto do que o da tempestade. Do alto da montanha, pedras rolavam violentamente, multiplicando-se conforme acertavam o paredão rochoso em sua queda. James quase não as via. Não fosse a luz de mais um relâmpago, teria sido acertado em cheio.

- Tome cuidado! – gritou Lanir. – Segure firme na corda, irei lhe balançar até a caverna.

James apenas fez um sinal de afirmativo com a cabeça; estava extremamente assustado. Os barulhos, o vento, os trovões e a poeira trazida pela enxurrada de pedras provocaram um efeito ameaçador terrível. E ele era apenas um garoto, um jovem que sonhava com a glória, que ansiava por novas aventuras, mas ainda assim um jovem, um menino despreparado; um novato, como muitos se apressariam em dizer.

Lanir o balançou com força e perícia, fazendo-o aterrissar sem muita dificuldade no interior da caverna. Foi quando um segundo estrondo ecoou por toda a montanha. Um novo deslizamento estava a caminho. Desta vez, muito maior do que o anterior. James colocou a cabeça para fora, curioso para saber o que estava acontecendo, sem notar que havia uma pequena criatura ao seu lado. Lanir foi atingido por um fragmento de rocha e despencou alguns metros, conseguindo se segurar pouco abaixo de onde o garoto estava, embora não estivesse próximo o suficiente para ser puxado.

- Irgh ri! Parece que o mensageiro tem problemas. – ironizou a criatura, que falava com uma dicção estranha, como se tivesse dificuldade em articular as palavras. – Cuidado que lá vem más zuma.

Um novo estrondo tomou conta da montanha e uma nova enxurrada de pó e pedra acertou Lanir, que agora se agarrava da maneira que podia a um pequeno arbusto que crescia em meio ao paredão rochoso.

- Vo-cê... – o mensageiro sibilou, fazendo muita força para sustentar o peso de seu próprio corpo. – Pare de brincadeiras, vamos!

James, que caíra sentado após a eclosão do terceiro estrondo, olhou para a criatura a sua frente com medo e curiosidade. O que seria aquilo? Um ser pequeno, do tamanho de uma criança, com a pele queimada, como que castigada pelo sol, e envelhecida. Tinha poucos fios de cabelos – três ou quatro, se estivesse enxergando bem – e os dois dentes da frente levemente projetados. As mãos tinham apenas três dedos, finos e compridos.

- É você que está fazendo isso? – perguntou o garoto, um pouco assustado.

A criatura se virou para encará-lo, seus olhos eram verdes e esbugalhados.

- Thhhhsim, talfex, quem sabisse. É a monthania, nem thudo é t-tão ssimples, meu caro.

- Como assim? Se você sabe o que está acontecendo, pare, por favor, pare, ou Lanir irá morrer! – James se pós de pé, talvez com alguma esperança de intimidar a estranha criatura, que era consideravelmente menor do que ele.

- Acho que não. Nada de problema pra ele.

No momento em que a criatura acabou de dizer sua última palavra, Lanir firmou a mão no arbusto que o dava apoio, pisou com força numa pedra do paredão rochoso e deu um salto incrível para aterrissar dentro da caverna. James o olhou até com certa incredulidade. Como um homem tão velho conseguira executar uma manobra tão complicada? Talvez nem o grande Gabriel, o cavaleiro mais capaz de todo o continente, conseguisse realizar uma proeza como aquela.

- Eu não dhisse. – a criatura resmungou.

Assim que colocou os pés no chão, Lanir puxou uma faca de sua bota e olhou ameaçadoramente para o estranho ser.

- Maldito! Eu devia matá-lo.

A criatura riu, emitindo um som estranho, quase como o barulho de um cuspe.

- Voxcê é que é mal agradezido.

- Isso é o que você diz...

A criatura murmurou algo inaudível por alguns segundos.

- Voxcês e sua eterna desconfhiança. Voxcê sabe que eu posso tirar voxcês daqui.

Lanir não respondeu, apenas encarou em silêncio a criatura por algum tempo; pensava. Talvez fosse a hora de confiar nela, pelo menos naquele instante; talvez ela realmente pudesse ajudá-los a fugir com segurança... quem sabe até não reduzisse o tempo daquela jornada, afinal, a montanha a obedeceria.

- Uarrati. O que decide? – a criatura perguntou.

O mensageiro continuou quieto por mais um tempo, ainda ponderando, até que baixou a sua arma. Naquela situação, seria melhor negociar; talvez também fosse hora de os dois terem uma conversa, uma oportunidade de esclarecer algumas situações do passado.

- Vamos com você.

- Ah... – a criatura sorriu, fazendo um esforço enorme para mostrar todos os dentes. – Então me shigam. Tem uma saída por ali. – ela andou para um pequeno túnel a sua direita enquanto fazia um lento gesto com os dedos para que James e Lanir a acompanhassem.

- Tenho certeza de que essa caverna não tinha saída quando fui jogado aqui. – disse o garoto, um pouco desconfiado.

- Érré, eu dhisse, asss coixsas mudam.

5 comentário(s):

Anonymous said...

Leo, mais um capítulo e mais curiosidades surgindo! Uau, seus capítulos estão se tornando cada vez melhores e nos prendem a cada linha lida, até chegarmos ao fim, e desejarmos mais! (:
Beijos,
Mariana

de Dai para Isie said...

Uau, Leo, muito bom! Pena que ainda não tem continuação no blog. Se tivesse, eu ficaria lendo a sua história o dia inteiro...
E que difícil, hein?! Essa criatura praticamente fala outra língua...

Até a próxima. =D

Michel Filipe said...

Muito, mas muito bem elaborado!
Demorei um pouco para ler esse capítulo, pois tive muitos problemas. Mas, esquecendo do que já não me interresa mais, estou querendo continuar a leitura. Estou falando sério Leonardo, achei muito bom essa parte da história.

T+

Grande abraço

Leonardo Schabbach said...

Valeu gente. Eu escrevi um pouco mais nesses dias, acho que dará pra postar mais em breve, talvez amanhã. Haverão ainda mais surpresas, mais explicações sobre o universo da história e mais umas coisinhas diferentes no meio da narrativa, vocês verão!

Unknown said...

gostei da forma como vc apresentou a criatura...inteligente e direto. abs