Thursday, May 6, 2010

Cap 5. - A Estrada dos Reinos (Parte I)

Nota: Mais uma vez, desculpo-me pela demora. Hoje posto um trecho normal, mas espero postar um trecho curto, que completa este capítulo em breve. Depois, não sei como será a periodicidade dos textos, farei uma postagem para explicar melhor a situação e pedir sugestões dos leitores. Quem ainda não leu a série, pode conferir aqui todos os capítulos.

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Gabriel cavalgava. Cortava as montanhas feito o vento; mais rápido do que qualquer cavaleiro, mais sábio e destemido do que qualquer general. Corria por seu povo e, principalmente, por seu mestre e amigo, o homem que tudo lhe ensinara, que lhe acolhera como um pai que ele nunca tivera. O rosto permanecia resoluto. Viajara por cinco dias na estrada que conectava o reino de Thomas ao de Sir Lance; passava agora por um imenso cânion que perfurava as cordilheiras rochosas. Não pretendia descansar, sabia que poderia ganhar um pouco mais de terreno, confiava em Duna, a égua negra em que montava, um animal magnífico que lhe fora dado por um membro do Povo das Fadas. Teríah-Duna era o seu nome completo, significava a “beleza do lago”. Nunca conhecera égua tão forte e tão rápida. Com ela, participara de inúmeras batalhas, mesmo sozinho, sem que as tropas inimigas o derrubassem.

Quando se aproximava do final do cânion, uma surpresa. Uma figura negra caiu do alto de um dos lados dos paredões rochosos poucos metros a sua frente. Gabriel puxou as rédeas de Duna, a égua empinou e parou. O vulto negro se levantou e tomou forma: era uma das criaturas. O corpo de cerca de dois metros e meio se curvava levemente para frente; os braços compridos, os músculos proeminentes, sólidos como pedras, e as garras expostas e afiadas. A criatura andou alguns passos para frente, as pernas, três vezes mais largas do que os braços, levemente friccionadas, como se um ataque pudesse acontecer a qualquer momento; o longo rabo negro, com uma espécie de navalha na ponta, balançava vagarosamente.

Gabriel recuou um pouco, puxou as rédeas para a direita e se virou para o lado oposto. Atrás dele, outras duas criaturas fechavam o caminho da volta, também em posição de ataque. O general permaneceu calmo. Desceu do cavalo e puxou a espada que estava embainhada na sela; bateu o pé três vezes no chão e Duna recuou para perto do paredão rochoso à esquerda dos dois.

As criaturas se aproximavam, avançavam a exata mesma distância no exato mesmo tempo, os passos em simetria. Gabriel sabia desta característica, da espécie de sintonia que havia naquela raça; tinha a consciência de que os ataques seriam simultâneos: bateu duas vezes o pé, Duna raspou a pata direita no chão.

As três criaturas saltaram, seu potencial atlético era impressionante: cada uma delas foi capaz de sair cerca de um metro e meio do chão. Duna se atirou na direção da criatura que fechava o caminho da frente e atacava sozinha, acertando-lhe as pernas. Ao receber o impacto, a criatura se desequilibrou e deu um giro no ar; foi quando Gabriel desferiu um golpe mortal com a espada em seu pescoço.

A batalha, porém, estava longe de terminar. O general sabia que precisaria ser muito rápido. Podia sentir a aproximação dos outros dois monstros. Os ataques seriam simultâneos, disso ele sabia; precisava pensar em como evitar recebê-los ao mesmo tempo. Em uma fração de segundos, girou o corpo, deu um pulo para a direita e cravou a espada no coração da segunda criatura. Depois, ainda teve tempo de defender o terceiro ataque; aparou a garra de seu último inimigo ainda vivo.

Por alguns segundos, ele e Gabriel se encararam, medindo forças: a espada ainda em contato com as garras do monstro. De repente, o rabo se enrolou no punho do general e, então, desceu. A navalha fez um corte profundo. Gabriel soltou a espada e curvou o corpo, levando a mão ao braço ensangüentado. A criatura trincou os dentes, que se estendiam pela boca levemente deslocada para frente, e depois pronunciou algo em um tom gutural; a frase soava mais ou menos como “Ahk ín ahk ankra”.

Gabriel a fitou com raiva, ela levantou a mão para o golpe final. Quando abriu a guarda, o general puxou um punhal de sua bota e, num movimento extremamente rápido, cravou-o no peito da criatura, que logo caiu para trás, ainda semi-viva. Gabriel a observou por um tempo, o sangue pingava de seu braço direito. Sabia que tinha escapado por muito pouco. Era considerado quase impossível se livrar de uma emboscada como aquela, com aqueles monstros. Pior ainda era saber que eles já andavam pelas montanhas, que já estavam tão perto das cidades, tão próximos aos habitantes indefesos. Tinha de ser rápido: não havia mais tempo para descansar.

Quando a criatura finalmente deu seu último suspiro de vida, o general arrancou o punhal de seu peito e foi até Duna. Pegou uma camisa velha, agulha e linha para costurar o ferimento no braço. Assim que terminasse, partiria sem descansar até que completasse a sua missão.

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Os guardas olhavam para o horizonte. Na planície que cercava o forte de Sir Lance, três figuras negras se aproximavam em grande velocidade, ainda longe demais para serem identificadas. A movimentação dos exércitos já se iniciava na muralha; o portão de ferro, a única entrada para a cidade, fora selado. As três figuras continuavam a se aproximar, aos poucos se tornavam mais identificáveis; os guardas as fitavam atentos, a tensão crescia.

- Capitão!! É o Cavaleiro Negro, capitão! O Cavaleiro Negro sendo perseguido por duas das criaturas.

- O quê? Tem certeza? Tem certeza de que é Gabriel?

- Positivo, senhor. Veja! – exclamou o homem enquanto entregava uma pequena luneta ao seu superior. O capitão a pegou prontamente e a direcionou aos três vultos que se aproximavam; logo deixou escapar uma expressão de espanto.

- Sim, é ele, é ele! Guardas, montem em seus cavalos, há um homem se aproximando que precisa de nossa ajuda.

Os portões da cidade se abriram. Gabriel olhou a cena com prazer, esperava por aquilo desde o momento em que precisara cavalgar com as criaturas a seu encalço. Fazia quase dois dias que era perseguido, estava cansado e preocupado com as forças de Duna. Por mais que ela fosse uma égua excepcional, deveria se sentir cansada. Por isso, ainda não tinha se livrado de seus perseguidores, para poupá-la; poupá-la justamente para esse momento, o instante em que abririam os portões.

Cinco guardas montados e armados partiram em alta velocidade em auxílio ao general. Eram homens destemidos; novos, porém inspirados pelo fato de que ajudariam o grande Cavaleiro Negro, um dos maiores combatentes daquele continente; talvez até mesmo o maior, uma vez que seu rei, Sir Robert Lance, e também Thomas Brickmond já haviam abandonado os campos de batalha.

Assim era conhecido Gabriel por todos os outros povos: era aclamado com o Cavaleiro Negro, um pouco pelas vestimentas que costumava a usar nos combates – a capa escura e a armadura preta – e um pouco por sua montaria. E ele cavalgava, agora, destemido e seguro, mantendo as criaturas a uma distância considerável. Enquanto olhava os homens de Sir Lance se aproximarem, pensava em suas possibilidades. Além se sua espada, ainda poderia contar com uma pequena besta e uma lança que prendera na sela de Duna.

As criaturas continuavam a perseguição; corriam lado a lado, os passos, como sempre, simétricos, marcados. Estavam um pouco confusas, porém. Nunca tinham imaginado que um cavalo pudesse cavalgar tão rápido e por tanto tempo; nunca um soldado conseguira fugir deles em um campo aberto.

Gabriel as olhava com alguma preocupação, mas não tinha medo de que elas o alcançassem, confiava plenamente em Duna, sua fiel companheira. Tinha mesmo era de pensar em um modo de distraí-las, quem sabe até separá-las; precisava fazer com que elas não notassem a movimentação da pequena milícia de Sir Lance que agora se aproximava.

Sacou a besta e reduziu a velocidade de sua cavalgada. As criaturas chegaram mais perto. A égua deveria estar cansada... finalmente... finalmente poderiam atacar, já não agüentavam mais a perseguição... humano insolente. De repente, o tiro. A criatura da esquerda deu um salto para frente, por sobre Duna e Gabriel, para desviar da seta da besta. Agora, elas tinham o general onde queriam: cercado. E como eram tolas. A milícia de Sir Lance tinha chegado. As flechas zuniram, atingindo as costas da criatura que saltara por cima de Gabriel. Pouco tempo depois, vieram as lanças, arremessadas à distância com extrema precisão: a segunda criatura estava morta.

- Bem na hora, cavaleiros! – disse general enquanto já colocava Duna em uma marcha lenta e imponente. – Não esperava nada de diferente de soldados treinados por Robert.

2 comentário(s):

de Dai para Isie said...

Uau! Tenho que exclamar... Muito bom, Leo!

Ótima narração, ótima descrição... Como sempre, parabéns!

Unknown said...

primeiras cenas de luta, bem narradas, ritmo ágil...gostei!